sábado, 28 de outubro de 2017

TRABALHOS ALTERNADOS

Aí pelos meus quinze e dezasseis anos de idade, vivi durante as férias liceais na aldeia onde os meus pais tinham um comércio. Nesses períodos, para além de atender a freguesia da mercearia (o que não me agradava nada) e de ouvir música no rádio da taberna, tinha a leitura de banda desenhada e de alguns pequenos livros de cow-boys da APR (A Colecção Seis Balas e a Colecção Cow-Boy) que uma vizinha de 75 anos, com algumas posses, me emprestava, depois de ela própria os ler. A senhora devorava romances de aventuras e privilegiava as do “farwest”! Trazia-me, às vezes, dois exemplares de cada vez, com prazo de devolução, o que eu cumpria depois de os ler, às vezes intercalando a leitura de um com a de outro. Como se deve compreender, isto exigia um exercício de concentração e de memória, treino que me valeu para futuro.
Quando na empresa municipal fiz nascer um jornal dos tempos (efemérides), tinha dois colaboradores a preencherem as colunas e ditava, para os dois, textos diferentes para preenchimento das manchas. Às vezes, é certo, precisava ouvir os últimos vocábulos ditados, à guisa de deixa teatral.
Vem este “relambório” a propósito de manter esse exercício, agora não na leitura (por não ter livros para devolver e não ficar à espera pelos que empresto), mas nos trabalhos que faço, ora no desenho ora em texto.
Não se admirem que tenha dedicação, em certos dias, à BD do Bandarra – que a vinheta deste post representa –, como aos riscos e rabiscos de A Rainha Africana, sem esquecer que tenho de ir trabalhando no almanaque trimestral, preenchendo as suas mais de 200 páginas. Para mais ainda abracei graciosamente leccionar História na US aqui da terra. Isto significa que, tendo o recurso a apenas duas mãos e a uma cabeça que tem lá tudo sem necessidade de apontamentos no que toca à acção, nunca me canse de um projecto porque passo de um para outro, em matéria de gosto e apetite, como salto de corça.
A minha arte no desenho – e até na escrita – é assim fruto da minha forma de ser: tosca, inocente, primitiva e até, por vezes, pueril. Não sou muito de rejeitar trabalho e aproveito tudo. Esta vinheta em pórtico da peça é exemplo deste meu paladar cultural na execução dos “bonecos”, tão só porque aproveitei (para não fazer outras) estas duas figuras que desenhei após a observação de desenho de fardamentos de época, dois soldados franceses que já serviram para outro trabalho meu e que agora descaradamente pretendo repetir.

Toda a minha obra é, acima de tudo, fruto da vontade; tomara eu que o engenho viesse de mão dada com esta.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

THE AFRICAN QUEEN (4)


Duas páginas de uma das passagens iniciais do filme "A Rainha Africana" e uma vinheta do "quase" final da película, tudo em "riscos", como manda o figurino.

domingo, 15 de outubro de 2017

THE AFRICAN QUEEN (3)

Uma das cenas em que Bogart consegue suplantar o seu grande nível de actor, é aquela em que o barqueiro Charlie Allnut, embriagado, tem uma valente discussão com Rose Sayer (Katharine Hepburn), discussão que mais se acirra quando ela o chama cobarde. É nessa altura que ele a destrata, tratando-a por solteira e beata.
A imagem que aqui trago, do tipo rascunho ou arte final (como quiserem), é o culminar dessa discussão, que acaba por fazer com que o canadiano destape uma das caixas de gin e "avie" parte do seu conteúdo.
O colorido do desenho, de que já dei algumas amostras neste espaço, acaba por amenizar as cenas de grande dramatismo num meio selvagem, a dureza do rio e o ambiente africano onde decorre a acção, quase toda ela num barco chamado "The African Queen". Presumo que o preto e branco, em traços esboçados, direi melhor "riscados", coadunam-se com a força dos elementos e a aventura vivida por um barqueiro endurecido e uma mulher em transformação de ideias e de ideais.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

THE AFRICAN QUEEN (2)


Já vários amigos meus e companheiros da blogosfera têm incentivado a continuidade e a sequente finalização da BD "A Rainha Africana" (no original da película THE AFRICAN QUEEN), que aqui trouxe em postagem de 10 de Julho do ano corrente.
É certo que comecei a fazer este trabalho sem pretensões especiais de publicação, porquanto uma grande dúvida se prende com o facto de a mesma estar imbuída de uma característica de pastiche ou decalque através dos fotogramas do filme. É certo que se trata do desenho baseado na fotografia de instantâneos (sequência dos fotogramas que animam o cinema), nem sempre representando os pormenores acessórios dos fotogramas e permitindo-me a liberdade dos desenhos, como será fácil cotejar com uns e outros.
Não recorri à técnica de colorir as imagens dos fotogramas ou de as transformar em desenhos a colorir (coisa que também não sei fazer, embora haja ferramentas digitais para isso), mas antes desenhei a preto os pormenores principais para os colorir depois; ou seja, desenhei cada um dos fotogramas no enquadramento semelhante à imagem que passa na tela (como se pode ver a seguir).
Se pretendesse publicar e distribuir este trabalho, teria de ser esclarecido sobre alguns pormenores, nem todos dependentes do meu arbítrio, e que são:
1º- Até que ponto estou autorizado a transpor para desenho uma obra alheia (de um estúdio, de uma realização,etc.)?
2º- Mesmo sendo o texto da minha autoria, sem consulta do guião original, quase todo em didascália, não é baseado num argumento escrito?
3º- Sendo esta minha ideia uma forma de resumir o filme, à guisa de sinopse escrita e desenhada, não é ela sujeita aos códigos deontológicos e legais de autoria?
4º- Mesmo que as imagens não correspondessem aos fotogramas, não seriam tomadas, mesmo assim, como decalque de uma obra já executada, ainda que esta tivesse outra forma de exibição pública?
Poderei concluir o trabalho, para meu deleite, uma vez que sou fã deste filme e dos seus dois principais protagonistas. Nesse caso, estarei livre para o fazer, dando por barato divulgá-lo por esta forma e estar ciente de que o faço sem ferir quaisquer das questões colocadas acima, dado que as imagens a exigir são as do anterior post e deste, mais nada.
Como já tive oportunidade de dizer ao meu amigo Luiz Beira (blog BDBD), não piso a linha vermelha dos direitos autorais de ninguém, ao mesmo tempo que tenho a liberdade de dispor dos meus para terceiros, graciosamente, por opção própria. É certo que esta obra é toda executada, de fio a pavio, por mim, mas não é a base da minha autoria (é como se eu estivesse a cozer um pão no forno com massa, água e fermento de outrem).
Finalmente, a somar a todas as dúvidas legais retro explanadas, há ainda uma interrogação que me coloco:
§ respeitar os fotogramas no seu enquadramento, dando-lhe o aspecto da película no écran, ou partir os enquadramentos para lhes colocar os diálogos?
É esta justificação que trago à barra: quid juris?

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O MEU LIVRO DAS CURIOSIDADES - D.QUIXOTE

Quando me sinto com bonomia para não fazer, como se costuma dizer, a “ponta de um corno”, envolvo-me com um livro de apontamentos e uma esferográfica preta para juntar curiosidades à longa lista das que “pesco” aqui e ali. Disto já falei noutro post, mais atrás.
Quando a bonomia se transforma em tédio e não me sinto tentado a fazer colheres com o vagar ou a ir para junto de um rochedo e talhar um megálito, passo esses apontamentos manuscritos para um ficheiro que trago a congestionar a memória do computador.
Quando quero colocar um travessão nas “postagens” para não expor apenas a Banda Desenhada, e por saber de antemão que este blog nunca será um imaterial monumento nacional, mesmo tendo como pedra de armas o célebre Bandarra, sinto-me tentado a mendigar retalhos da minha obra engavetada, encaixotada e penada em “drives” informáticas.
É o caso de hoje. Do tal livro manuscrito, à passagem digital sequente, encontrei hoje uma tirada sobre o D. Quixote, assanhado em arruaças e toleimas onde eu não me queria ver.
Miguel de Cervantes, o autor de D. Quixote de la Mancha, um dos mais belos romances que até hoje foram escritos, não deixou incólume D. Alonso Quijano, o infeliz fidalgo da “triste figura”. No meio ano das suas andantes cavalarias, entre pancadas de criar bicho, o magro fidalgo ficou assim marcado: meia orelha arrancada por Sancho de Azpetia; levou murros nas mandíbulas de um atávico arrieiro de Marritornes até perder os sentidos; ainda uns pontapés por parte do mesmo arrieiro enquanto estava no leito; levou murros na boca, dados por um estalajadeiro, que castigou assim ver os seus odres esfaqueados; mais murros no rosto por parte de um pastor de cabras; foi apedrejado pelos pastores, amolgando-lhe algumas costelas e ferindo-o nos dedos da mão direita; foi espancado com a própria lança por um moço, depois deste a desfazer em pedaços; foi agredido com um cantil de azeite na estalagem por um quadrilheiro da Santa Irmandade (como na maioria das ditas irmandades, espalhando amor e sarrabulho), de que surgiram dois galos na cabeça; foi mordido e arranhado no nariz por um gato em casa dos duques; passou-lhe por cima uma vara de porcos e recebeu patadas de uma manada de vacas; foi agarrado pelo cabreiro pelo pescoço na tentativa de o estrangular, à semelhança do que lhe fez o dito quadrilheiro da Irmandade; ainda sem contar com a difícil situação vivida pelo cavaleiro andante nas velas do moinho.

Será caso de perguntar se eu, no lugar de Cervantes, faria o mesmo à minha personagem. Pois bem, faria, tal como fiz a uma outra, recuperada por mim da tradição oral - o Padre Costa de Trancoso. Se o de Cervantes acometia moinhos, o meu sacerdote acometia mulheres. Entre um e outro, não venha o diabo escolher, porque prefiro que o faça o leitor.

sábado, 7 de outubro de 2017

DESENHO E FOTOGRAFIA (5)


Tal como no cinema, a sequência do meu trabalho não é linear e não é feita segunda a ordem numérica crescente; ou seja, posso estar a trabalhar na página 10 sem estarem feitas as páginas 50, 70 ou 80. Lá está, é a minha apetência e disponibilidade para cada assunto, não forçando o trabalho quando a engrenagem emperra numa determiada sequência.
Curiosamente, ao contrário de outros autores (pelo que me é dado a saber), não faço planificação. Todo o trabalho, do princípio ao fim, está na minha cabeça - por vezes, faço os ligeiros apontamentos ou grafismos de suporte - mais nada.Como o caso que aqui trago em apreço, trata-se de uma modificação e ampliação de uma BD publicada há uns anos, o que me facilita as coisas e me desocupa a memória com o enredo e afins.
É o caso das duas páginas acima. Pessoa é referido no anterior trabalho numa só vinheta, repartindo-a com o Padre António Vieira; aqui, neste, já tem mais abertura para falar através de balões (texto que corresponde aos seus escritos).
Na medida do possível, procuro deixar os fundos de acordo com a época e atinentes à situação e à personagem: é o caso do café Martinho da Arcada (com o piso diferente do actual e sem alcatrão e pinos); é o caso da imagem de Pessoa a passear de gabardina, retirada de uma foto, a preto, no Chiado. Depois, como se fosse atrás dele, gravo-o na cercania da primeira vinheta, com a Praça do Comércio e o Arco da Rua Augusta, ainda que só apareçam parcialmente.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O BANDARRA - 4º TRIMESTRE DE 2017


Ainda não veio da gráfica - mas deve estar quase pronta - a publicação referente ao 4º trimestre de 2017 de "O Bandarra - Almanaque Trimestral", desta vez com 214 páginas. Com esta publicação, faz o pleno de 2017, a que se junta o 4º trimestre de 2016, pelo que, neste número, sai um índice geral dos assuntos tratados ao longo das 840 páginas do ano de 2017.
Sai com um pouco de atraso (culpa minha), mas a periodicidade mantém-se.