sexta-feira, 29 de julho de 2016

LUA DE MEL NA ESCÓCIA



Do terceiro volume dos meus "Contos de Amor e Drama" extraí a primeira página de um dos contos aí publicados, que reproduzo a seguir. Trata-se de um conto publicado numa revista, há uns bons anitos, e gira à volta de um velho escocês excêntrico, cujo enredo e, principalmente o final, tem muito de imprevisto.
(Não estranhem estar a coisa pelo actual acordo ortográfico, pois correspondi apenas à lei; coisa que não faço neste blog).


Terminada a cerimónia do casamento na pequena igreja, Lígia passou os braços em torno do pescoço de Dário e ofereceu-lhe a boca, húmida de desejo. Quando os lábios de ambos se tocaram, o recém-casado recebeu uma sensação de fogo, ao mesmo tempo que sentia, contra o seu, o corpo da desposada. Ainda se beijavam quando o padrinho dele se aproximou, privando-os da intimidade com um ligeiro pigarrear.
— Oh... Desculpem — disse. — Conforme prometi, é chegada a altura para vos revelar onde será a lua de mel misteriosa.
Ambos balançaram a cabeça. O padrinho tinha-lhes prometido o pagamento integral das despesas com a lua de mel, reservando-se apenas a guarda do mistério até ao dia do casamento. Finalmente, ia desvendá-lo.
— O Dário sempre mostrou interesse por castelos. Vai daí deitar-me a pensar: que tal oferecer-lhe a lua de mel num autêntico e antigo castelo da Escócia?
Lígia soltou um gritinho de satisfação e Dário abriu a boca num sorriso grato.
— Trata-se de um bonito e imponente castelo do século XIV — continuou o padrinho — autêntico baluarte situado junto a uma falésia de Mull, na sombria ilha das Hébridas. É um castelo típico da Escócia, rodeado por uma paisagem maravilhosa, repleto de armaduras, brasões e história, pois foi destruído e construído uma meia dúzia de vezes. Eis a concretização da oferta que vos faço com agrado. Tem apenas um senão...
— Como o quê, por exemplo? — estranhou Dário.
— O proprietário é um velho amigo chamado Gregory MacLean, que me deve alguns favores e com quem tenho negócios relacionados com os lanifícios de tweed. No entanto, trata-se de um velho excêntrico, que não gosta de ser contrariado e que não nutre especial simpatia por médicos.
— É o ideal para meu anfitrião — sorriu o afilhado. — Sou médico.
— Isso pouco importará, pois sei que ele vai receber-vos condignamente, conforme combinámos. Porém, não o contradigas em nada, nem andes por lá a meter os pés pelas mãos.
Três dias depois, Gregory recebeu os convidados com o ar de condescendência dum aristocrata que estava habituado a ser obedecido e a não saber o que é obedecer. Trajava a saia com as cores do seu clã e meias brancas até ao joelho. Uma bengala de mogno parecia ser o símbolo da sua autoridade.
— Sei muito bem qual é a sua profissão — começou MacLean por dizer, após as apresentações — embora isso não interfira nas nossas amistosas relações, desde que não queira interferir na minha saúde, aliás precária. E há uma outra condição...
— Condição?!
— Sim. Tem a ver com a pessoa que me vem frequentemente tratar: atua como médico, mas não é licenciado em Medicina.
— Não tenho nada a intrometer-me nesse particular, sir, muito embora estranhe essa atitude.
— Não estranhe. Por exemplo, Pasteur não era médico e conseguiu o tratamento para a raiva, o qual só pôde administrar na condição de ser ajudado por médicos, para não ser processado e preso. 

terça-feira, 19 de julho de 2016

A BANDOLEIRA FELIZ - A LÁPIS DE COR (3)


Ainda sobre o trabalho que ontem retomei neste blog, regresso hoje com as duas primeiras páginas desta obra, recentemente iniciadas e quase acabadas. Isto significa que entre as páginas mais adiante e estas primeiras existe um hiato no tempo de mais de 15 anos, o que significa uma alteração ao trabalho original que, como já disse, se encontra inconclusivo e sujeito a estes acrescentos.
Dá-me prazer desenhar - mesmo que não objective publicação - pelo que vou idealizando a história conforme a imaginação correr, não tomando apontamentos nem quaisquer outros rabiscos ou sinopses. Tenho a história na cabeça e, por vezes, à medida que a vou passando ao papel, através do desenho, entro por outros atalhos.
Por quê a cor através do lápis?
Pela simples razão que, ao contrário do que se julga, os lápis de cor permitem nuances e misturas por sobreposição, com a facilidade de traçarem linhas finas em complemento do desenho.


Esta técnica que eu idealizei à minha maneira permite-me passar do esquiço a lápis primário para o resultado final, sem mais subterfúgios ou tratamentos, conforme se pode ver na prancha dois.
Ou seja:
- uma folha de papel normalíssima, se possível com gramagem acima de 80 g
- enquadramentos a caneta, sem régua
- desenho segundo o engenho e arte, de acordo com a história programada (ou nem isso)
- colorir com lápis de cor, deixando os traços do lápis primário para posterior passagem a caneta
- passagem a caneta de cor preta nos contornos, emendando alguns pormenores ou acrescentando outros
- finalizar, a gosto e q.b. no photoshop ou no MGI photosuite em "adjustements" para o que se quiser: hue/saturation/; color/balance, etc.
- aplicar em computador ou por colagem a balonagem e a didascália, Se se pretender fazer à mão, na prancha, deve ser testado previamente o espaço  e colocado nele, a preto, todo o texto.

Como sou um amador, testo muitas possibilidades. Partilhar com quem quiser testar deste ou de outro modo, é a forma que tenho de comparticipar nesta arte.

Finalmente, a segunda prancha já terminada na quarta vinheta e algumas modificações de cor na terceira.




segunda-feira, 18 de julho de 2016

A BANDOLEIRA FELIZ - A LÁPIS DE COR (2)



Em 24 de Janeiro de 2013 coloquei aqui um post sobre este trabalho (inconclusivo, para já), que constitui uma abordagem diferente da que costumo utilizar para colorir. Então coloquei lá três pranchas, pelo que hoje coloco outras duas.
Então deixei escrito o seguinte:

"A Banda Desenhada tem a particularidade de ser feita através dos meios mais diversos, com as técnicas mais ou menos sofisticadas, com o suporte que permite variadas opções.
É o caso que ora trago aqui em três pranchas. 
"Trata-se de uma adaptação de uma publicação que fiz no jornal "O Crime" - já lá vão uns anitos - e que, logo a seguir, decidi colorir para mim, não concluindo. O mais curioso é que decalquei os meus desenhos em papel IOR de 80 gramas, desenhei a lápis e colori com lápis de cor (esses mesmo, os que usam na escola primária), passando os contornos a preto, no final. Depois foi só colar as legendas. Nada mais simples; técnica acessível a qualquer principiante.
"As três pranchas que trago para amostra não são seguidas, pois apenas fiz a experiência, pintando quatro, do todo."

De vez em quando, para desenfastiar, volto a este trabalho e continuo com o lápis de cor, lembrando-me que foi com esta técnica que iniciei as primeiras e particulares produções na BD.