sábado, 14 de setembro de 2013

OS CRIMES DE DIOGO ALVES


Da minha colaboração no jornal "O Crime", principalmente em banda desenhada e ilustração, fiz vários episódios com figuras negras do crime nacional, entre burlões, regicidas, larápios e assassinos.
Diogo Alves foi um deles. Iniciado no número de 13 de Agosto de 1998, prolongou-se até 15 de Outubro do mesmo ano, com uma página semanal completa.
Porém, eu fazia os desenhos em prancha italiana, duas tiras na horizontal, pelo que a página exigia duas destas pranchas.
Em cima, por exemplo, está a parte superior da página 3, correspondente à prancha 5 e, em baixo, a parte superior da página 6, correspondente à prancha nº 11.


 
Trabalhava a mata-cavalos, pois a saída era semanal e apenas tinha adiantadas duas páginas (4 pranchas "italianas"); pelo meio, o director do jornal telefonava-me a pedir uma ilustração para determinado acontecimento criminal, a sair numa próxima edição, a fechar. Dava-me as indicações verbais e eu que me arranjasse, desde que fosse rápido (âs vezes tinha meia hora ou uma hora, no máximo), pois a notícia - que não tinha fotografia - precisava da ilustração.
Algumas dessas ilustrações foram parar à primeira página, o que queria dizer que as tinha de colorir.
Bons tempos!...
Só tenho a dizer bem do director, José Leite, bem como de toda a equipa, que sempre cumpriram o acordado, tal como eu.
Lembro-me de ouvir dizer a alguns amigos, que não liam O Crime -  dois deles, salvo erro, o Magalhães e o Lino - o compravam só para seguirem a BD.
Sobre Diogo Alves e os seus crimes, só tenho a dizer que foi um facínora dos grandes (que mereceu, para além da minha Bd, de um livro escrito por Leite Bastos e de dois filmes, um de Lino Ferreira, em 1909 e outro de João Tavares, em 1911), trouxe Lisboa sob o terror, entre os anos de 1836 e o de 1839, altura em que lhe puseram uma corda à volta da garganta. Era conhecido pela alcunha de "O Pancada" e praticou, à luz do dia e da candeia, os mais ousados assaltos e os mais hediondos crimes. O cenário preferido era o Aqueduto das Águas Livres, utilizando a altura do Arco Grande para empurrar as vítimas para o abismo.
Voltarei com outro destes trabalhos, se não me der para fazer como os políticos: não cumprir o que prometo.


5 comentários:

  1. No que se refere ao Lino, é a pura verdade. E pelo que conheço dele, o Jorge Magalhães é homem para ter feito o mesmo.

    Saudações bedéfilas.
    GL

    ResponderEliminar
  2. Pois não faça como os políticos, amigo Santos Costa, que não são bons exemplos que devamos imitar... Mostre mais páginas dos seus trabalhos para "O Crime", nomeadamente desta biografia do Diogo Alves, que eu recordo com especial apreço, porque a sinistra criatura e os seus hediondos crimes foram muito bem caracterizados na sua história, até com uma mirada fascinante, pelo lado mórbido...
    E é verdade que eu só comprava o jornal por causa desta série, sem prestar atenção ao resto. Para crimes já bastava!...

    Um abraço do
    Jorge Magalhães j

    ResponderEliminar
  3. Olá, Lino

    Isso só vem provar, entre outras coisas, como a amizade, o seguinte: que os verdadeiros apreciadores de Bd estão atentos e não desdenham encontrá-la, seja onde for.

    Abraço
    Santos Costa

    ResponderEliminar
  4. Olá, Jorge

    Em parte, a resposta que dei ao Lino, na caixa anterior, também o abrange.
    Lembra-se daquelas noites de quinta-feira quando, à saída do Parque Mayer, percorríamos a avenida da Liberdade no sentido descendente até ao Rossio, para encontrarmos revistas nos vendedores do passeio? Não fosse o caso de encontrarmos aí alguma preciosidade, trocada ou vendida - talvez em hora de aperto - por algum coleccionador ou descendente de coleccionador, perdida naqueles ambulantes alfarrabistas!
    Quanto ao Diogo Alves, será dada sequência à sua sugestão.
    Houve epidódios curiosos, ocorridos naquela meia dúzia de anos de colaboração com O Crime. Um deles - lembro-me como se tivesse sido ontem - estava eu de férias em Aveiro, à beira da Ria, quando recebi uma chamada do director do jornal, chamando-me a atenção para não enfatizar determinado pormenor de um crime ocorrido com protagonistas nacionais, então recentemente, no Brasil. Uma familiar de uma das vítimas tinha ameaçado recorrer à Justiça se aparecesse na sequência dos episódios em publicação, um "retrato" violento e violentado dessa mesma vítima.
    Pois bem, de férias, com episódios já desenhados, compreendi o receio da pessoa. Mal regressei dessas férias, à pressa, tratei de alterar algumas vinhetas, designadamente colocando na sombra o rosto dessa vítima.
    Um outro caso, foi o de estar a publicar a "saga" de um criminoso, então a cumprir prisão, que ameaçou igualmente o jornal ( e o autor) de levar ao seu advogado o assunto relativo a uma acção judicial, se os desenhos mostrassem a "dureza" do crime.
    Como vê, Jorge, entre muitas outras ocorrências, nem sempre é fácil "retratar" casos contemporâneos. Imagine que tipo de ameaças me faria o Diogo Alves? Lançar-me ia da torre alta do aqueduto... Sem paraquedas!

    Abraço
    Santos Costa

    ResponderEliminar
  5. O seu exercício introspectivo, na sequência destes comentários, revela pormenores curiosos de um trabalho que reputo tenha sido apaixonante, tanto para si como para quem o leu (e eu era um desses leitores assíduos, embora às vezes fosse difícil encontrar "O Crime" nas bancas... não faltando crimes de toda a espécie noutros sítios).
    Por isso, aplaudo a sua reiterada intenção de publicar neste blogue "Os Crimes de Diogo Alves". E venham mais, depois dele...
    Quanto aos nossos passeios, depois da tertúlia, pela Avenida da Liberdade abaixo, lembro-me bem deles e só tenho pena de já ter passado tanto tempo. Embora seja bom recordar... e sonhar um pouco com o passado.
    Um abraço do
    Jorge Magalhães

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.