segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ANO NOVO-SUPERSTIÇÕES VELHAS


As superstições são vividas ao longo do ano; no entanto, com a entrada de novo ano, são inúmeras as que são seguidas e atendidas por larga maioria de pessoas, principalmente ante, durante e após as doze badaladas do dia 31 de Dezembro.
Vejamos algumas:

Champanhe – guarda-se a rolha da garrafa do champanhe aberto na ocasião para festejar o Ano Novo, em lugar secreto, para que traga dinheiro. Também se acredita que é de bom agouro dar três saltinhos com uma taça de champanhe na mão, de modo a que não verte sequer uma gota; há quem leve o costume mais longe, deitando após o conteúdo do copo para trás, independentemente de molhar alguém, porque garantirá a sorte a essa pessoa.

Subir um patamar – acredita-se que se deve subir um degrau, um patamar ou para uma cadeira, na passagem de ano, para que a vida ganhe novo impulso positivo; mas deve fazê-lo com o pé direito primeiro. Não se promete que suba na carreira, principalmente se estiverem “congeladas” as progressões na dita.

Uvas – comer doze passas, cada uma com seu desejo. Aconselho que reservem uma delas para que Sócrates e comandita não regressem ao leme do País, porque para pior, já basta assim.

Calcinhas e cuecas – usar de preferência de cor amarela, porque representa o ouro.

Sapatos – colocar uma nota (no caso, o euro) dentro de um dos sapatos (de preferência, o direito), porque atrai mais dinheiro, uma vez que se acredita que a energia e a abundância entram pelos pés. A propósito, também traz bom augúrio saltar com o pé direito, sem se incomodar muito com os euros aí escondidos, porque mais pisados do que estão pela Europa fora, é impossível. Acautele-se com o cheiro dos pés, principalmente se pretende posteriormente trocar a nota.

Barulho- fazer chinfrineira com tachos e panelas, para espantar os malefícios do ano que finda e impedindo que entrem no novo.

Portas e janelas – devem estar abertas na passagem do ano e as luzes acesas, para assim receber o ano novo com bonomia. É claro que também se estará sujeito a receber o amigo do alheio, mas devemos lembrar-nos que somos “assaltados” com taxas, impostos, alcavalas e portagens, mesmo com tudo fechado.

Moedas – Acredita-se num ano de boa conta bancária se jogarem moedas de fora para dentro de casa; será cauteloso aquele que se prevenir contra a quebra acidental de vidros, cujos seguros (e mais uma vez) se escusam a reembolsar.

Bolsos – Não se deve fazer a passagem de ano com bolsos vazios, mesmo que tenha sido esbulhado pelos mesmos sugadores ao longo do ano e independentemente dos cortes no subsídio de Natal. Lembrem-se que até a mendicidade, neste País, paga imposto.

Objectos – Aconselham a que nenhum objecto partido deve ser mantido em casa, na passagem de ano; eu diria mais, tudo o que tresande a partidos. Deve deitar fora todas as más recordações impressas, como as fotografias de Sócrates e quejandos – possivelmente trará bom augúrio para si e para o País.

Finalmente - Façam o que entenderem, mas sejam Felizes e tenham Saúde. Difícil será esconjurar os resultados dos maus governos, as tróicas e a subida do custo de vida e dos impostos. E lembrem-se que só será bom um Ano Novo se não cometermos os mesmos erros do Ano Velho.


sábado, 17 de dezembro de 2011

Profetas e Profecias

Bandarra, o “obscuro mesteiral” nasceu três anos antes de Nostradamus. Ambos perseguidos pela Inquisição, não puderam declarar abertamente (como convém a todo o profeta que se preze) os factos e as eras dos acontecimentos. Isto faz que não sejam, por vezes, claras as premonições escritas pelos dois profetas, assumindo uma característica hiperbólica, recheada de metáforas e de citações bíblicas.
Se “ninguém é profeta na sua terra”, Bandarra contrariou o rifão. Profecia é – segundo o conceito enciclopédico – o conhecimento sobrenatural e a predição infalível de acontecimentos futuros naturalmente imprevisíveis. A própria Bíblia tem os seus profetas, que são dezasseis: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, os maiores; Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, os menores.
Para o padre António Vieira, a rusticidade de Bandarra numa vila de interior, justificava-se pela intervenção divina – “se levantou Deus de entre as mulheres uma Doutora que foi Santa Teresa, de entre os Soldados um Apóstolo que foi Santo Inácio” também Deus podia escolher “de entre os rústicos um profeta que foi o Bandarra”
É ainda Vieira, para quem a figura de Bandarra merece respeito, que afirma sobre os profetas – “Isto que nos Poetas é hipérbole, no Profeta é verdade pura, e certa sem encarecimento
E quanto aos outros profetas portugueses?
Em 1541, a Inquisição condenou Luís Dias, alfaiate de Setúbal “por se fazer Messias em Setúbal”. Em 1582, era condenado, por falsas profecias, Afonso dito O Adivinhão. Dois anos depois, cabia igual condenação a um tal Pedro Afonso. Em 1638, deste anátema não escapou João Lopes dito O Idiota.
Latino Coelho define desta guisa os profetas: “primeiro adivinham vagamente, depois afirmam com ousadia... A princípio profetas, depois mártires, finalmente semideuses”.
Juntaram-se outras figuras menores, porquanto populares, como o caso do Pretinho do Japão, um profeta do séc. XIX, que baseava as suas profecias nas de Bandarra. A este veio juntar-se o vate Pimentel, tendo saído a lume um livro com a data de 1849, impresso na Tipografia de E. J. da C. Sanches, cujo título é bastante sugestivo: Profecias profetizadas pelo Pretinho de Japão, e por Gonçalo Annes de Bandarra./ Augmentadas com as verdadeiras profecias do Vate Pimentel, profetisando os grandes acontecimentos que tem accontecido em differentes nações, desde 1847, até ao presente; e de feturo até o anno de 1856.



Neste tempo em que Portugal se vive das dificuldades de um País que foi mal governado, e se remenda com esbulhos e parciais formas de tributar, é bom que se leia nos profetas o destino que Fernando Pessoa viu nas trovas do Bandarra.
Bandarra disse:
Também sou oficial,
Sei um pouco de cortiça.
Não vejo fazer justiça
A todo o mundo em geral.

Que agora a cada qual
Sem letras fazem Doutores,
Vejo muitos julgadores
Que não sabem bem, nem mal.